quarta-feira, 13 de junho de 2012

O causo da costureira feroz - Crônicas do nó cego

Aconteceu que um dia.....

Elisana tinha um bebê fofo e grande. Tinha 7 meses, e a curva de crescimento do rapazinho estava em ritmo ascendente a todo vapor. Era inverno no hemisfério norte.

Andarilha que era, tinha um cobertorzinho que usava no carrinho do bebê (e na cadeirinha do carro ocasionalmente) naqueles dias em que seu sangue tropical parecia que ia congelar nas veias. Artigo indispensável ao dia-a-dia. Colocava o meninão no carrinho com cobertor, cobria com a proteção de vento e andava mais do que a má notícia....

Fonte: Amazon
O cobertorzinho é composto de 2 partes: a que fica presa no carrinho através das alças do cinto de segurança do carrinho, e a parte superior, que cobre a criança. Essas partes se unem através de um zíper que se abre por completo.

Só restava mais um mês de inverno rigoroso e a temperatura ia começar a subir. Porém o bebê não servia mais no cobertor. Chutava e abria a parte de baixo - expondo aquela fofura de pé. E por mais que ela gostasse de ver e pegar no pé dele, entendia que no mês de fevereiro ninguém merece ter o pé exposto aos elementos climáticos em dito hemisfério!
Elisana não queria comprar outro cobertorzinho e o dilema se instalou.

Após fazer um levantamento dos recursos que tinha, decidiu cortar um cobertor seu (e do marido...) e com ele aumentar o do bebê. O marido comprara esse cobertor muito grande para o tamanho da cama, ficava caindo pelos lados e a solução não poderia ter sido melhor. Era um material semelhante a espuma super fina e condensada - bem quentinho e leve. Elisana se certificou de testá-lo em temperatura abaixo de 0C: sem casaco, saiu de casa e ficou na calçada enrolada no cobertor, enquanto os vizinhos ponderavam a necessidade de ligar para a instituição de saúde mental. Constatou que o material seria apropriado, nem mesmo passava vento.

Cortou o cobertorzão. Abriu o cobertorzinho na costura superior, tirou o zíper. Fez um cálculo preciso valendo-se da olhometria para determinar o formato da extensão que seria necessária e se pôs a costurar. Teve a idéia de fazer uns apliques prá ficar mais bonitinho, sempre fiel a sua linha de trabalho: "prá que simplificar se é possível complicar?" Para garantir que seria bem quentinho mesmo, ainda forrou a extensão com o mesmo material, duplicando-o. Ficou impressionada com o fato de ter conseguido reutilizar o ziper porque ela não tinha outro zíper daquele tamanho e sabe como é quando dá aquele comichão prá fazer uma coisa? Seria impossível esperar mais uns dias até ir a loja de aviamentos...

Terminou a parte de cima. Começou a de baixo.


Bom, aqui a história se complica mais um pouquinho. A parte que fica presa a cadeira tem os recortes por onde passa o cinto de segurança e por esse motivo, não seria possível virar a peça toda ao avesso para costurar a extensão e o zíper. Por motivos que a razão desconhece, ela fazia questão de costurar por dentro para que a costura não ficasse aparente, ao invés de simplesmente passar uma costura por cima prendendo o zíper e a extensão, afinal, essa era a parte inferior que nem fica a vista mesmo! Não se dando facilmente por vencida, virou-se, abriu costura embaixo, dos lados... deu um jeito e conseguiu costurar a extensão e a maior parte do zíper. Só faltava um pouquinho, mas tinha que costurar numa posição um tanto quanto estranha, de difícil descrição. Costurando o zíper pelo lado avesso através de uma abertura minúscula no lado direito, tinha que reposicionar o tecido a cada 5 pontos. Malabarismo daqueles que só as costureiras altamente enroladas experientes conseguem executar.

Já era quase hora de por as crianças prá dormir...mas só faltava um pouquinho....

O marido, compreensivo que era com a insanidade determinação de Elisana foi dar banho nas crianças até que ela terminasse o projeto, afinal, faltava só um pouquinho......

De repente, o sonido grave que  máquina faz quando a agulha se depara com um objeto sólido e registra erro. dzzzzzzzzzz. E um grito comedido. E sangue. E o barulho da máquina sendo sacudida na mesa. Mais sangue. Mais batidas na mesa...

Ui!

A agulha tinha descido na ponta do dedo médio esquerdo, sobre a unha. Por um momento, ainda que efêmero (graças a Deus efêmero!) ela estava carne e unha com a máquina de costura. Mas Elisana sacudiu tanto a máquina com o dedo ainda preso, que a agulha rasgou a unha e a carne, até que o dedo se soltasse da máquina. Ui (ao quadrado). Foi a versão crafter do encontro de Moby Dick com o harpão...

O marido assustou, a vizinha levou ao PS. O médico disse que o osso escapou por um triz.

Ficou conhecida no Pronto Socorro como a costureira feroz.

Ao chegar em casa, em torno de 1 da manhã, dedo costurado por revés do destino e latejando como se tivesse levando marteladas, se deparou com um pouco de sangue sobre a mesa, um pouco na parede. A máquina ainda ligada, de lado, de pé na vertical, cobertorzinho limpo do lado. Como ele permaneceu limpo ainda é um mistério.

Sentou-se, virou a máquina, trocou a agulha. Se situou e continuou a costura, afinal, faltava só um pouquinho....









O sinal na ponta da unha e do dedo, que ficaram prá contar a história


PS: a Fatinha, do blog Costurar & Renovar, coletou dicas de segurança ao costurar. Vale a pena conferir se você não quer virar alvo de piadinhas no Pronto Socorro....

6 comentários:

  1. Essa parte da história de ficar sentada na porta enrolada no cobertor eu nao sabia....eu tinha minhas dúvidas que essa `costureira feroz´ era um pouco louca, mas agora eu tenho certeza!!! hahahahahah

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  2. kkkk mas eu não consigo para de rir rs
    desculpa Elisana, mas a parte do cobertor na calçada, a parte da costureira feroz também! putz
    Na verdade, o relato todo é muito divertido, pela maneira como escreves. Escreves muito bem!

    Mas valeu a pena, o cobertor ficou um mimo!

    bjs

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  3. Tem que continuar a saga - vai decepcionar assim os leitores e fãs? Tem que fazer também a "Odisséia do Nó Cego", "Sonhos de uma Noite de Verão Amarrada a Nó Cego" e por aí vai... Beijos - a Lia tá certa, você escreve bem prá %$#@***

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  4. voltei prá ler de novo - com vontade de mais, sabe como é... Li pro "Marildo", ele ficou falando "Quando uma mulher é dedicada, é mesmo", "Parabéns pro marido dela, não vai achar melhor por lá de jeito nenhum...". Principalmente depois que eu falei prá ele que você é da "terrinha" dele - amou, ficou cheio de orgulho. Ah, achou as botinhas de ursinho lindas... Beijo.

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  5. O mal de toda a costureira kkkk já fiz muitas destas pior quando é o alfinete maldito kkkkkkk

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